(Khalil Gilbran para o Jornal Brasil 247)
Não é de hoje que os brasileiros são reconhecidos no mundo inteiro pela capacidade criativa e pela diversidade e qualidade musical. Nesse contexto, o violão, até pela difusão da Bossa Nova pelo mundo, tornou-se um instrumento que muito referencia a nossa música. Muitos estilos e dedilhados já foram inventados e reinventados. Porém, o violão percussivo do potiguar Arleno Farias desconstrói todas as regras aprendidas sobre o instrumento.Nascido em Janduiz e criado em São Rafael-RN e filho do poeta repentista e forrozeiro Arnaldo Farias, Arleno iniciou cedo seu contato com a música, ouvindo o som da viola do pai, que viria a ter grande influência nas suas composições. Como qualquer adolescente normal, recheado de rebeldia e vontade de mudar o mundo, o garoto teve como trilha sonora de sua puberdade o rock e pop rock, canalizando sua energia nos solos de guitarra que escutava. Nasceu, dessa forma, a música que rompeu com os padrões e conquistou pela inovação e o perseguido desejo de tocar diferente.
Dominando o violão com facilidade, Arleno criou uma técnica a qual chamou de violão percussivo, onde consegue, nas seis cordas do instrumento, emitir sons simultâneos que nos dão a forte sensação de que há uma banda inteira tocando com ele. Mas a técnica inovadora e afiada seria apenas uma das armas do artista.
Dono de uma voz grave, bonita e afinada, Arleno interpreta suas canções com um amor singular. Canta como que por paixão. E compõe como quem pinta.
Cada verso, cada arranjo, cada linha melódica conta um pouco da sua história, trazendo para o universo da música nordestina, a base de seu trabalho, ritmos como rap, trance, reggae e rock. Nada em estado puro, sempre na base da mistura, como ele costuma dizer.
Com o lançamento do seu primeiro disco de forma independente, em 1998 Atlântida do Sertão , ganhou popularidade em Natal, onde já estava residindo, passando a receber incentivos para se mudar para São Paulo, o que se concretizou no ano de 2000. Porém, seu primeiro sucesso com o grande público aconteceu em 2002, com a interpretação da música Bicho do Mato, na trilha sonora da novela Esperança Rede Globo, do renomado autor Benedito Ruy Barbosa. Em 2006, participa novamente da trilha sonora de uma novela, desta vez, Sinhá Moça, com a música Mistérios da Vida.
Graças a discos como Receita de Poesia (Indie Records) e ForróMPB (independente) no qual misturou os dois gêneros, ganhou fãs no meio do forró universitário e entre apreciadores de MPB. Em Estúdio Ao Vivo (independente), seu quarto disco, mostrou no formato violão e voz sua habilidade e originalidade com o instrumento. Em seu DVD O Dia Que Passou Por Nós (independente), gravado no respeitadíssimo palco do SESC Pompéia (São Paulo SP), também lançado em CD com o título Mandacaru Rock, contou com a participação especial de artistas como Chico César, Fernando Nunes (Zeca Baleiro), Simone Soul (Mutantes), Osvaldinho do Acordeon, Tato (Falamansa), Roberto Pinheiro (Trio Virgulino) e Arnaldo Farias, dentre outros, comprovando sua versatilidade de estilos musicais.
Arleno conquista de forma consistente seu espaço enquanto fazedor de boa música. Seus discos são facilmente cantáveis e agradam sem necessidade de explicação cult. Algo cada vez mais raro na música que vem sendo produzida no Brasil nos últimos anos.
Ouça Lua Cheia(Gravação DVD SESC Pompéia/SP), Ao vivo: